5 de abr. de 2013

Memórias Culinárias #3 – Sushi de Playboy

Memórias Culinárias #3 – Sushi de Playboy
Uma das coisas que eu mais gosto de fazer no Google Street View é rever lugares que de algum jeito ou de outro marcaram minha vidinha e que, se não fosse por essa fantabulosa ferramenta da interwebs, eu jamais voltaria a visitar. Faço passeios inteiros às vezes só pra relembrar certos momentos ou ver como os lugares mudaram ao longo do tempo.
Tempos atrás, enquanto traduzia um livro de decoração que dava dicas sobre como fazer seu APARTAMENTO combinar com o seu BICHINHO DE ESTIMAÇÃO e usava o exemplo de uma ARARA pra isso, eu me lembrei de uma loja de animais exóticos que vi uns seis ou sete anos atrás e me deixou totalmente deslumbrado. Era um lugar todo cheio de araras, saguis, teiús e tartaruguinhas muito fofas (e caras pra caralho). Lugar de gente rica. Uma coisa totalmente fora do meu mundo.
Lembro que fui lá depois de comer no restaurante japonês mais FANTÁSTICO e CARO que eu já tinha ido (até então). Um FLYING SUSHI na Faria Lima, aqui em São Paulo. Era bem longe de casa, eu estava com minha ex-namorada na época. Nenhum dos dois tinha carro, e a gente teve que pegar um ônibus totalmente bizarro e demorado pra chegar lá. Era inverno, fazia frio, ventava e eu estava com uma blusa de soft verde que eu adorava, mas nem me lembro mais como perdi. O rodízio japa também me fascinou loucamente na época, com uns hot-rolls que eu nunca tinha visto, e aproveitei pra comer um MONTE porque era caro demais pra mim. Tinha que aproveitar né? R$29,90 se me lembro bem. Almoço de sábado. Comi com um friozinho na barriga, aproveitando cada pecinha de sashimi porque não sabia quando voltaria a comer algo assim. Aliás, na minha cabeça, a ideia de repetir aquela experiência me parecia bem, bem distante.
Foi mais empolgante ainda porque, no caminho de volta, passei numa banca e vi que tinha saído o primeiro gibi que traduzi na vida (sim, trabalhei como tradutor de gibis e livros pelos últimos sete anos). Um do Homem-Aranha contra o Abutre. Comprei a revistinha, vi meu nome nos créditos e voltei todo feliz pra casa. Na época, eu ainda tinha finais-de-semana livres. Isso foi pouco antes da minha vida virar uma espiral INSANA de trabalho, uma época na qual eu estava só começando a perceber que poderia trabalhar com algo que realmente gostava (e uma época na qual eu ainda não tinha percebido o quanto isso pode ser uma grande armadilha).
Esse foi um dia muito feliz pra mim. Eu me lembro de voltar a pé de mãos dadas com a minha namorada na época pela Faria Lima, sentindo o vento frio no meu rosto, com a barriga cheia de sushi, passando por lugares que, pra mim, eram de um outro mundo. De um mundo do qual eu no fundo sonhava em fazer parte algum dia. Um dia no qual eu poderia comer comida japonesa quando bem me desse na telha, ou até ter uma tartaruguinha legalizada em casa.
Empolgado com essa linda e empolgante lembrança da aurora de minha vida como uma situação minimamente suportável, de quando as coisas estavam começando mesmo a dar certo pra mim e tudo já não parecia mais tão sombrio, decidi ir atrás do lugar no Google Street View. Sabe como é, pra reavivar a memória, pra talvez voltar lá, ver uns bichinhos e comer um Flying Sushi na humildade e ser feliz.
Mas o que sobrou do lugar, ao que parece, foi só isto aqui.
ps: hoje, finalmente, posso comer comida japonesa quando bem me dá na telha. hurra!

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